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ANÁLISE: Cientistas políticos explicam por que Nordeste já não é “vitória garantida” para Lula

Durante duas décadas, o Nordeste foi sinônimo de terreno seguro para o PT. Mas essa dinâmica mudou. Para analistas ouvidos em encontro promovido pelo UBS com empresários e clientes, nesta quarta-feira (26), a região mantém importância estratégica para Lula, porém deixou de ser um reduto automático.

O desgaste acumulado e as transformações sociais recentes criaram um ambiente mais volátil — e, em alguns casos, mais hostil — para o governismo.

Segundo o cientista político Andrei Roman, cofundador da AtlasIntel, há uma mudança estrutural em curso no comportamento do eleitorado nordestino. Pesquisas recentes registram uma queda no desempenho do petista na região, reflexo de fatores que se somam e fragilizam uma equação que antes parecia estável.

O primeiro deles é o esvaziamento simbólico dos programas de transferência de renda. Durante anos, o Bolsa Família funcionou como elo central entre o Nordeste e o PT, mas perdeu força eleitoral. Roman observa que o programa se tornou menos determinante ao longo do tempo, tanto pela longevidade quanto pelo fato de Jair Bolsonaro ter elevado seu valor em 2022.

“Hoje já não existe mais aquele temor de que um governo de direita vá acabar com o programa”, explicou. A consequência seria direta: o vínculo automático com o lulismo enfraquece.

O segundo ponto levantado pelo pesquisador é o desgaste dos governadores aliados da esquerda. “Não temos mais campeões de popularidade como antes”, afirmou, citando Bahia e Ceará entre os casos de maior declínio de aprovação.

Para ele, quando governadores perdem apoio, parte desse desgaste respinga no governo federal, especialmente em uma região onde o eleitor tende a associar problemas cotidianos a Brasília.

O terceiro fator é o avanço do crime organizado e da violência. Roman destacou que a deterioração da segurança pública cresceu de forma acentuada fora das capitais, afetando cidades médias e pequenos municípios. A percepção de insegurança fragiliza a imagem de eficiência estatal e amplia o sentimento de frustração com os governos locais e nacional.

Além desses três vetores, há uma transformação no perfil do eleitor mais decisivo da região. O especialista apontou que o “swing voter” do Nordeste se concentra nas periferias urbanas, um eleitorado menos fiel ao lulismo, mais sensível ao custo de vida e à qualidade dos serviços públicos. “É um eleitor muito mais atento ao cotidiano do que ao debate ideológico”, disse.

O resultado é um Nordeste mais competitivo. Não se trataria de um rompimento com o PT, mas de um ambiente que exige maior presença, respostas mais rápidas e uma estratégia que vá além do apelo histórico dos programas sociais.

A mudança também reposicionaria o mapa da disputa: se antes o Nordeste compensava eventuais perdas no Sudeste, agora os dois frontes tendem a ser igualmente acirrados, ampliando o peso das periferias das grandes capitais nordestinas no tabuleiro de 2026.

Por Marina Verenicz, InfoMoney

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